quinta-feira, 10 de abril de 2008

Cidade de Sadr

Cada vez se torna mais difícil perceber o que é que os ocupantes americanos querem fazer do Iraque. Neste momento apoiam um verme chamado Maliki, primeiro ministro não por ter sido eleito, mas por comandar as forças mais brutais do território - as milícias Badr, especialistas em limpeza étnicas. Estas brigadas xiitas, preparadas e treinadas pelo Irão, a quem se aliaram na primeira guerra do Golfo, agora designam-se "exército do Iraque".

Uma vantagem para os ocupadores é que as forças de Maliki não acreditam numa nação iraquiana, mas num Iraque de três nações. Será por isso que os sunitas, confinados ao seu triângulo e deixados "em paz" pelo governo, estão ao que parece resignados a trocar bofetadas com a Al Qaeda. Os massacres de Falujá parecem tê-los amansado e suponho que tenham aceite este status quo como um mal menor. O facto dos soldados americanos serem neste momento o ganha-pão de milhares de elementos das milícias sunitas também deve ajudar (fica-lhes mais barato que pagar aos mercenários da Blackwater).

Voltando ao Iraque xiita, há duas semanas, alguém decidiu levar a ordem estatal a Bassorá, uma cidade sob governo de facto do "exército Mádi", afecto ao clérigo xiita Moqtada al Sadr. Apoiadas pela aviação americana, as milícias Badr bombardearam, destruiram e pilharam, em sucessivas vagas, talvez pensando que desde o cessar fogo de Agosto de 2007 os seus rivais estariam fragilizados.

As milícias Mádi não só defenderam, com o apoio da população, o seu controlo sob a cidade, como ripostaram, fustigando a ultra-protegida zona verde a partir da Cidade de Sadr, uma zona de Bagdade com 3 milhões de habitantes.

Aflitos, com membros do seu próprio exército oficial e da polícia a desertarem para se juntarem aos insurgentes, os aliados das forças americanas tomaram a decisão de enviar comitivas ao Irão para, com a sua Guarda Revolucionária como mediadora, negociarem um novo cessar fogo. Na cidade sagrada de Qom, no Irão, reuniram-se representantes do governo iraquiano, do exército Mádi e passadas algumas horas os conflitos acabaram.


Há 20 biliões (trillions americanos) de dólares em petróleo que cada vez mais parece impossível cairem nas mãos americanas. É razoável assumir que o objectivo americano é conseguir estabelecer um governo estável e amigável que permita assegurar, se não o cumprimento do objectivo geostratégico da permanência de grandes bases militares, pelo menos a obtenção das riquezas petrolíferas através do mecanismo de saque capitalista. E há um país que iteradamente mostra ser a sua única saída para pacificar o Iraque. Em termos financeiros, saíria relativamente barato comprar a amizade persa e conseguir acesso ao petróleo iraquiano através de predação capitalista.

Mas eis que se revela a razão do lodo, onde o objectivo do saque esbarra contra uma maior prioridade: Israel. Por muito lucrativo que seja, por muito que seja a única solução para o Iraque, o Irão não pode ser tratado como um aliado, muito menos ser-lhe atribuída a responsabilidade de estabilizar um estado-satélite.

A solução americana passa então por este impasse, uma confusa ajuda militar às forças que parecerem mais fortes no extermínio das rivais, ao invés da promoção do entendimento entre elas. E prosseguir a ocupação que apesar de tudo, enquanto dura, dá enormes lucros ao complexo militar-industrial, à custa das vidas de milhões.

1 comentário:

Wyrm disse...

É antiguinha a posta mas tenho que comentar.

De facto só nõa bato palminhas pelos americanos estarem a levar fortemente nos cornos porque quem volta para casa dentro de sacos de plástico são pobres diabos que acreditam no american dream e que se não fosse por uma bala, provavelmente morreriam mais à frente por falta de cuidados médicos.

Acontece que o atrasado mental meteu os USA num atoleiro. As empresas de armamento estão a ganhar milhões, as petrolíferas não tanto como gostariam provavelmente, mas a população americana já começa a estar farta de mandar os filhos para o açougue, além de que a economia estar como se vê.

No entanto se os palermas retirarem do Iraque a guerra civil provavelmente vai escalar, ficando no Iraque continua este conflito grinding stone que quanto mais tempo passa maiores as consequências para todos os intervenientes.

É uma lotaria saber qual a melhor medida para o Iraque, mas uma coisa eu sei: depois deste conflito muita gente abriu (ou deveria ter aberto) os olhos acerca do que é o capitalismo, as suas motivações e os seus métodos.

p.s.: continuo a achar que download de musica ripada é roubo.