quinta-feira, 13 de março de 2008

Soma I


Há vários elementos das distopias de Orwell e Huxley cujo carácter contemporâneo é consensualmente inegável: novilíngua, grande irmão, contracepção. Os termos referem-se a blocos da construção e estabilização de um mundo a que se convenciona chamar Ocidental. Menos comum é falar-se da Soma, o químico tomado voluntariamente pelos escravos da máquina social para eliminar as sensações de desconforto e insatisfação.

Esta semana nos Estados Unidos, uma investigação da Associated Press revelou a existência de tranquilizantes, estabilizadores de humor, antidepressivos e outras somas no fornecimento de água pública de 44 milhões de americanos. Ao que parece, as quantidades consumidas destes medicamentos são massivas ao ponto dos ciclo da água e dos sistemas de tratamento de esgotos não as eliminarem completamente.

O Ocidente não é estável como o admirável mundo. Antes necessita de criar ansiedade galopante para se manter em movimento. Aos limites biológicos da máquina, responde com soma.

2 comentários:

Anónimo disse...

Este ano na cadeira de Análise e Tratamento de Efluentes estudei o problema da contaminação das reservas de água com compostos farmacêuticos. Também na Europa (não há estudos em portugal AFAIK) já se observam concentrações, ainda que pequenas (microgramas/litro), de vários compostos farmacêuticos (antibióticos, antidepressivos, analgésicos...) que não são decompostos pelos processos tradicionais de tratamento e que vão parar às reservas que depois nos abastecem, não há estudos conclusivos sobre o efeito destes compostos orgânicos complexos e dificilmente biodegradáveis nos ecossistemas e nos humanos. Assustador!

Anónimo disse...

Obrigado pelo comentário valioso!