segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Águas Turvas

Julho de 2006 - O líder de uma patrulha de franco-atiradores Blackwater USA decide divertir-se. Avisa dois dos seus subordinados que vai à caça, e mata, por desporto, os motoristas e ocupantes de dois veículos. Os seus colegas, chocados, apresentam queixa e são prontamente despedidos.
Dezembro de 2006 - Um mercenário da mesma empresa, bêbedo, abre fogo e mata um civil na zona verde de Bagdade. É trazido rapidamente de volta para os Estados Unidos, impune a qualquer acusação criminal.
Março de 2007 - Um civil iraquiano é morto por conduzir demasiado perto de uma coluna desta empresa, e no dia seguinte, no centro da cidade, dezenas de civís e membros da polícia iraquiana são baleados indiscriminadamente por uma outra coluna.
Setembro de 2007 - 7 civís e um polícia iraquiano são assassinados numa ocasião semelhante.

São alguns casos que ilustram a violência desregrada praticada por estas forças. É certo que a impunidade dos bárbaros recrutados das hordas de Pinochet, do Ku Klux Klan, dos Minutemen, está assegurada. Mas é já um duro golpe para este modelo estratégico que o ministério do interior iraquiano tenha banido a Blackwater de operar neste país.
A espectativa é grande - a Blackwater USA é a maior de todas as fornecedoras de serviços de mercenários, e só por si é a segunda mais numerosa força militar no Iraque (6 vezes mais operativos que o Reino Unido). Pode dizer-se que a sua existência curta como fornecedora deste tipo de serviços depende de forma crítica dos milhares de milhões que ganha com a sua presença no Iraque - só do governo americano contam-se 1 000 000 000 $ em contratos.
É aberto um precedente, e se é decidido expulsar também o pessoal da Aegis UK, que se filma a balear civís (e coloca os vídeos no YouTube), as tropas estrangeiras no terreno ficarão depauperadas em mais de um terço dos seus operativos. A embaixada portuguesa no país fechou por os custos de protecção pagos a mercenários serem impeditivos. A revogação da licença de operação dos "serviços de segurança privados" tornaria em poucos meses o modelo de presença militar americana incomportável.

É devido a esta interdependência que a secretária de estado norte-americano Condolezza Rice está a interceder para que o Primeiro-Ministro Nouri Maliki cancele a decisão.

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