quinta-feira, 17 de abril de 2008

Violência Policial

Este fim de semana fiquei a saber de uma festa num grupo social da Cova da Moura em que, depois de uma confusão, alguém foi alvejado numa perna. Foi chamado o INEM, que demorou uma hora a acorrer ao local, já o ferido tinha sido transportado para o hospital. Mais tarde chegou a polícia, que entrou a disparar tiros para o ar, a fazer buscas e a exercer uma violência arrogante sobre as pessoas.

O notícia que saiu na imprensa era ipsis verbis a nota de imprensa dos assessores da PSP e era uma mentira do princípio ao fim.

A ideia subjacente a esta actuação é a da polícia juiz e executora, que ameaça aparecer e fazer estragos indiscriminados se for chamada, esperando que assim o bairro, zona, grupo, se mantenha calmo. Esta é a actuação de uma polícia que não acredita na justiça. Espera-se que ninguém se porte mal por medo da manada de animais armados a bater indiscriminadamente em tudo e em todos.

O trabalho de combate à prepotência policial tem que começar pela galvanização e criação de uma união entre os abusados dos bairros, mas também da malta da bola, associações de defesa dos direitos humanos, de uma acção também por via judicial junto dos mecanismos oficiais de salvaguarda dos direitos dos cidadãos.

A criação de verdadeiras plataformas comuns de entendimento para denúncia das arbitrariedades seria um bom começo. A mobilização da sociedade, ou pelo menos das vítimas devia ser a prioridade. Espero sinceramente que este trabalho de campo tenha sido realizado, e que estas vítimas tenham conseguido agregar estas, estas e estas para uma luta comum. Porque se não houver uma estratégia, então, lamento, mas manifestações como esta arriscam-se a passar como sectárias, folclóricas e contra-producentes.


Dito isto, aqui estão algumas sugestões que poderão ajudar a que a manifestação corra pelo melhor:

1 - Convocar alguns grupos organizados de vítimas de opressão policial que este ano já se queixaram: lembro-me da Associação Khapaz, da malta do Grémio, por exemplo, mas também os adeptos do Belenenses.

2 - Certificar a presença dos media. Fez a diferença na situação do despejo do Grémio, em que a Paula Monteiro não conseguiu inventar uma mentira que correspondesse às imagens.

3 - Envolver os partidos simpáticos à causa. Se estiverem envolvidos, é menos provável que vejamos, como foi o caso o ano passado, o Fernando Rosas a fazer um esforço maior por demarcar-se das posições dos manifestantes do que a solidarizar-se com as vítimas da violência.

4 - Definir linhas orientadoras relativamente à forma de lidar com agentes infiltrados. Lembremo-nos de como foi fácil meia dúzia de agentes à paisana criarem os distúrbios do ano passado.

5 - Garantir uma manifestação aberta, que conquiste e envolva a população dos lugares por onde passa. As caras tapadas, em manifestações como esta, não ajudam. Marchar rápido também não.

6 - Escolher um percurso que faça sentido. Não andar atrás da carrinha da polícia para se ser encurralado como da outra vez. Marche-se até ao Martim Moniz em vez do Largo Camões (já agora, que raios é que uma manif deste género vai fazer para o chiado? há lá alguém que interesse sensibilizar?)

Todo este trabalho é passível de ser feito. Há meios, há contactos, haja coragem e determinação. Se não se aprender nada com os erros do ano passado, voltaremos a ser nós com as pernas partidas e eles a rirem-se.


3 comentários:

Anónimo disse...

Não tem muita (mas também não deixa de ter) relação directa com isto:

http://www.boingboing.net/2008/04/17/uk-man-hassled-by-co.html

UK man hassled by cop for not having a "camera license"

Anónimo disse...

there's no such thing as a camera license in England or any other free nation

Em Portugal é preciso ter uma licença especial para fotografar com tripé. Parece mentira mais é verdade.

Nuno Góis disse...

Belo post. Concordo plenamente.